Embora se deva sempre
salientar a importância do hábito de ler, sobretudo em um país de poucos
leitores, é fato que há certas publicações que não merecem ser lidas. Para
Schopenhauer, “para ler o que é bom uma condição é não ler o que é ruim”, uma
vez que “a vida é curta e o tempo e a energia são limitados”. Mas o filósofo
não se permite abordar o tema de modo vago. Ele, por exemplo, afirma que “não
há nada mais fácil do que escrever de modo que ninguém entenda”, em uma clara
crítica aos que gostam de escrever de modo afetado, para demonstrar “erudição”.
Também condena a prolixidade ao dizer que “utilizar-se de muitas palavras para
expressar poucas ideias, é sinal infalível de mediocridade”. E como há escritores
afetados e medíocres em nossos dias! Sim, há, mas, infelizmente, não temos a
mesma liberdade de Schopenhauer de fazer tal denúncia em viva voz,
uma vez que poderia ser entendido hoje como um dizer preconceituoso e antipático,
afinal, é crença mais que arraigada na sociedade que todo mundo é talentoso e que
qualquer juízo de valor revela uma estreiteza de visão de quem julga. É esse
tipo de condicionamento mental a que todos somos submetidos desde o primeiro
dia que pomos os pés na escola, e que é reforçado pelos meios de comunicação de
massa. Mas nem tudo está perdido. Vez ou outra nos deparamos com uma obra que merece,
de fato, nossa atenção. Uma obra na qual se percebe a preocupação do autor com
a clareza, a objetividade e a determinação de não fazer qualquer concessão às
suscetibilidades do leitor. A este, se
possível, o autor dispensaria com um piparote, ao modo de Machado de
Assis. É o caso de Guia politicamente incorreto da Filosofia, do filósofo Luís Felipe
Pondé, publicado pela editora Leya Brasil.
Devo agradecer a uma amiga, a
professora Clarissa Maranhão, a indicação do Guia. Na verdade, Clarissa, a quem aprendi a admirar pela seriedade,
competência e criatividade com que vem conduzindo um trabalho de excelência na
área da produção textual, postou no Facebook um comentário positivo a respeito
do livro de Pondé, despertando-me o interesse. Costumo valorizar a opinião de
pessoas inteligentes, especialmente quando escrevem bem. É o caso dela. Como
não sou nada bobo, assim que pude, fui conferir o Guia. O livro é curto e a linguagem é de fácil compreensão, de modo
que rapidamente o li. E gostei do que li.
No livro, Pondé denuncia a
hipocrisia moral de nosso tempo: o discurso politicamente correto, ao qual ele
chama de “praga PC”. De fato, trata-se de uma praga, haja vista sua capacidade
de disseminação e seu poder destruidor. Para
entender o fenômeno, um caso concreto: em outubro deste ano, o autor foi
convidado a compor uma mesa redonda na Feira Literária Internacional de
Cachoeira (Flica), na Bahia, mas teve sua participação cancelada por falta de
segurança. Não havia como garantir a integridade física de Pondé diante da
animosidade de manifestantes esquerdistas que o consideram um reacionário de
direita e, por isso, queriam cassar seu direito de falar. Queriam e conseguiram.
Ora, mas o discurso esquerdista não é justamente a do pluralismo, do respeito à
diversidade? Sim, claro: toleram-se todas as opiniões, desde que alinhadas com
a esquerda festiva representada pelo Partido dos Trabalhadores. Mas que belo
exemplo da praga PC!
O tema da mesa redonda seria
“As imposições do amor ao indivíduo”. Penso que o título deve ter sido sugestão
do próprio autor, uma vez que no Guia Politicamente
Incorreto da Filosofia ele revela seu ceticismo em relação à ideia de que
todos têm direito à felicidade, como se tal coisa pudesse se constituir em um
benefício garantido pelo Estado, não se restringindo este a garantir o direito do
indivíduo de buscar a própria felicidade.
Tal equívoco tem origem em Rosseau, que acreditava na bondade natural do homem. O
homem é um ser essencialmente amoroso – pensava ele –, e, se não é isso que se
vê no dia a dia, a culpa está sempre nos outros, na sociedade que o corrompeu. Apesar
de bonitinho, tal discurso, no mundo real, faz tanto sentido quanto as renas do
Papai Noel no cenário do nascimento de Cristo. Como consequência desse otimismo
ingênuo, vivemos um tempo em que, livres da tirania religiosa, salvos do engano
do capitalismo selvagem e alforriados do culto à deusa razão, muitos
redescobriram sua natureza bondosa e, com ela, a felicidade. Trata-se de pessoas
virtuosas, superiores, e por isso mesmo emancipadas, sexualmente resolvidas,
sensíveis, tolerantes, ecologicamente corretas, preocupadas com a injustiça social e amorosas com nosso
próximo. Pode tanta perfeição? Pondé deixa claro: tudo isso é a marca visível
de toda nossa hipocrisia, mau-caratismo e breguice. Como ele aborda essa ideia
no livro? Só lendo para conferir.
Muito bom texto, parabéns! Ainda não li o livro, mas gosto do autor. Apenas uma ressalva: mude o tipo da letra (fonte) usada no blog, a atual está muito ruim para leitura!
ResponderExcluirAbç,
Oswaldo
Obrigado pelo comentário. Mudei a fonte para Arial. Espero que tenha ficado melhor de ler agora. Posteriormente verei que tamanho e fonte são mais apropriados. Sem dúvida, Pondé é um autor bastante interessante. Um grande abraço.
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