quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Como nasce um ateu


            O homem é naturalmente crédulo. Diferente do que defende muitos de meus pares, não creio que sem a influência da família (ou da sociedade como um todo) no sentido de transmitir certas ideias religiosas às crianças, estas não desenvolveriam, por si mesmas, quaisquer ideias nesse sentido. Basta considerar que a curiosidade natural e a busca pela compreensão do mundo se esbarram em certos obstáculos instransponíveis, pelo menos aparentemente, para considerarmos a alta probabilidade de um ser humano suspeitar a existência de algo além da matéria. O fato é que a vida é marcada por tantos mistérios, há tanto que a ciência não explicou ou, talvez, jamais conseguirá explicar, que haverá sempre a brecha para que, em algum momento, alguém tenha uma “iluminação especial”, um “entendimento além dos sentidos”, um “insight”, uma “visão mística”, um “êxtase”, enfim, qualquer forma de compreensão do universo que transcenda o mundo físico. Não foi isso mesmo que teria ocorrido no mundo primitivo? O homem, diante do inexplicável, criando o divino a “sua imagem e semelhança”? O homem, espantado com as forças da natureza, concebendo um ser acima dele, mas, ao mesmo tempo, acessível, com o qual poderia manter um relacionamento, com o qual poderia, assim, negociar sua “salvação” neste mundo tão hostil? Concebendo um deus pessoal e acessível, pode o homem tentar aplacar-lhe a ira, de modo a evitar o indesejável e obter o desejável à sua sobrevivência. Não é assim que se explica, sob as lentes da Antropologia, a origem da religião? É importante que se diga que a religião surgiu na infância da humanidade, ou seja, quando o homem não poderia ser influenciado por ideias religiosas pré-existentes. Apesar disso, não faz sentido dizer que o homem primitivo tenha sido originariamente ateu, uma vez que, para sê-lo, teria primeiro que criar o conceito de Deus. Só depois poderia negá-lo.