segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

AFASTAMENTO

Ficarei afastado um tempo do blog para tratar uma crise de tendinite. Assim que for possível, volto a postar novos artigos. Leia o material disponível e comente-o à vontade. Um abraço a todos.

Sérgio Santos

domingo, 13 de janeiro de 2013

A subjetiva moral cristã


            O crente comum difere em muito do teólogo. É verdade que ambos creem em Deus, ambos têm fé e estão certos de que, por meio dela, religar-se-ão a Deus, de quem foram afastados pelo pecado. Ambos creem que por meio da prática religiosa (na acepção original do termo) poderão reconquistar o paraíso perdido, onde, finalmente, após vencer as agruras desta vida, desfrutarão de uma bem-aventurança sem fim. Ambos creem que há, sim, um Deus, que se revelou aos homens, oferecendo-lhes uma saída para evitar a consequência natural da sua condição pecaminosa, isto é, a danação eterna ou, segundo alguns credos, a aniquilação definitiva. Ambos acreditam na autoridade das Escrituras Sagradas, as quais teriam sido escritas sob inspiração divina para revelar aos homens todo esse plano de redenção arquitetado pela Suprema Bondade do Universo. Ambos procuram viver os ensinamentos desse livro, ou melhor, os ensinamentos do Cristo, que é, no final das contas, o próprio Deus. Ambos entendem ser seu dever enquanto cristãos propagar o que seria as verdades do Cristianismo. No entanto, enquanto o crente comum acredita em tudo isso tão-somente por um ato de fé, alicerçado em sua crença de que Deus se revela aos homens, seja de forma direta, por meio de sonhos e visões, seja de forma indireta, por meio da sua Palavra, o teólogo converte o próprio Deus em objeto de conhecimento e, fazendo isso, procura submetê-lo ao crivo de uma metodologia pretensamente científica ou, se isso não parece possível, ao crivo da especulação de natureza filosófica. Tudo para demonstrar que a revelação é, afinal, defensável do ponto de vista acadêmico, merecendo, assim, o respeito concedido a quaisquer teorias científicas ou sistemas filosóficos. Desse modo, se o crente comum crê que Deus existe, o teólogo não se limita a crer: ele sabe que a proposição “Deus existe” é logicamente válida e verdadeira enquanto conhecimento seguro. Ele está convencido disso de tal maneira que se vê capaz de demonstrá-lo ao mais cético dos homens. O teólogo tem, além de fé, firmes convicções. Sua crença em Deus apresenta uma justificação racional. Como ateu e interessado na análise do discurso religioso, tenho feito um grande esforço para compreender as razões para o estabelecimento de tal convicção, e, nesse caminho, tenho procurado entender em que consistem tais justificativas racionais para a fé. Não é por outro motivo que tenho feito continuamente concessões aos argumentos pró-teísmo, nos pontos em que me parece possível transigir, a fim de alcançar sua amplitude e acompanhar suas implicações. Neste artigo, resolvi lançar mão desse procedimento na apreciação do argumento moral para provar a existência de Deus, o qual é concebido como o padrão objetivo da moralidade. O argumento normalmente é proposto como um desafio aos céticos e aos defensores de uma ética sem Deus ou de uma moralidade relativa. Espero que o caro leitor possa compreender o cerne da argumentação e refletir nas considerações que se seguem.

Desafio teísta - O que sustenta a moral ateísta? (por Rafael Avelino)


Resposta ao desafio teísta sobre moralidade (por Pirulla)


Outras respostas ao desafio teísta

Clarion
Tomishyio
Yuri Griecco
Maurício

Tréplicas e a moral cristã

Rafael Avelino 1
Rafael Avelino 2
Logos Apologética
Laurindo Cavalcanti
Leonardo Bruno
Willian Lane Craig

A moral na perspectiva de ateus

Ateu informa
The Atheist E...
Richard Dawkins
Christopher Hitchens

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

O limite do argumento cosmológico



            Desde que o homem inventou a escrita, por volta de 4.000 a. C., tem o registro escrito a prerrogativa de conservar, para as gerações vindouras, o conhecimento produzido pelo homem. Isso inclui, claro, além da informação obtida por meio do método indutivo e da experiência empírica, os sistemas teóricos nascidos da dedução e reflexão racional. Ao longo da história, utilizou-se o homem dos mais diversos suportes (pedra, tabuleta, papiro, pergaminho, papel, etc.), para possibilitar a transmissão dessa produção científica e filosófica a qualquer homem, em qualquer lugar e no porvir. É claro que sempre houve também a simples transmissão oral das ideias, feita de homem a homem e de pai para filho. O problema, nesse caso, era (e ainda é) a frequência com que ocorrem ruídos nessa comunicação, o que acaba provocando deturpações, acréscimos e reduções das ideias originais. Por esse motivo, é que se faz necessário ao acadêmico, hoje, se intenciona fazer uma pesquisa séria e honesta, a prática de reportar-se sempre ao autor que propôs a teoria que pretende analisar, seja para endossá-la, contribuindo com outros dados, seja para contestá-la, propondo uma teoria substitutiva. Desse modo, ele evita as acusações de ser desinformado, impreciso ou intelectualmente desonesto. Se o registro oral é descartado, nesse caso, por se tratar de informação pouco confiável, a modernidade criou uma possibilidade de redimi-lo dessa condição. Trata-se da gravação do discurso em vídeo. Podemos, por meio desse recurso, ouvir o próprio teórico defendendo suas ideias, o que é fantástico! Foi exatamente por esse meio que tive, inicialmente, contato com o argumento cosmológico Kalam, defendido por seu maior proponente na atualidade: o teólogo e filósofo estadunidense Willian Lane Craig. Ouvi-lo defender o argumento, por exemplo, em vídeos postados no Youtube, é bastante esclarecedor, ainda que a leitura de seus artigos deva ser necessariamente mais enriquecedora, haja vista possibilitar o aprofundamento no tema. De qualquer forma, como contato inicial, a audição de uma exposição teórica pode se revelar bastante produtiva do ponto de vista da compreensão. Apologista cristão, Craig frequentemente é convidado a fazer sua defesa em debates ao vivo contra proeminentes críticos de sua proposta de defender a existência de Deus por meio de argumentos dedutivos. Devo reconhecer, mesmo divergindo de seus argumentos, que ele tem sido muito exitoso na comunicação da defesa que faz. E é justamente essa a vantagem do vídeo: pode-se ouvir da própria boca do autor o que ele, de fato, está propondo em seu sistema explicativo. Feitas essas observações, informo ao leitor deste artigo que, doravante, a apreciação do argumento cosmológico será feita com base no discurso feito por Craig em sua primeira visita a Saddleback, igreja localizada no estado da Califórnia e fundada pelo pastor e escritor Rick Warren. Craig havia sido convidado a discorrer sobre a questão cosmológica “Como o universo surgiu?”. Na ocasião, teve de adaptar seus sofisticados argumentos para um público formado basicamente por leigos.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

O argumento primeiro



Sempre que tenho a oportunidade de travar um bom debate sobre religião – sim, há bons debates sobre o tema! –, deparo-me com a questão da existência de Deus. Natural que seja assim, haja vista eu ser confessadamente ateu e, diante do meu posicionamento sobre essa questão, a discussão acaba tendo mesmo que resvalar para esse tópico. Sendo assim, ao longo do tempo tive a oportunidade de me confrontar com vários argumentos que procuravam, se não provar, ao menos apontar evidências da existência de uma divindade. Nesse campo, o teísmo acadêmico é o que mais me tem chamado a atenção. Diferente do teísta leigo, que, no geral, assenta sua argumentação no discurso do senso comum, o teólogo procura, na exposição das suas ideias, demonstrar que a crença em Deus é, do ponto de vista acadêmico, uma proposição respeitável. Daí seguir um método, uma disciplina própria da atividade científica. Apesar de estar no lado oposto nessa discussão, não posso, com honestidade, deixar de reconhecer que a teologia tem proposto bons desafios para os ateus e construído sistemas explicativos bastante coerentes, não obstante seja essa coerência mais interna que externa. Isto é, embora a argumentação pareça obedecer aos princípios da lógica aristotélica, não incorrendo nos erros de petição de princípio, contradição ou tautologia, não consegue, muitas vezes, estabelecer, de forma clara, uma relação com a realidade externa, uma correspondência fora do discurso. Esse é o caso, por exemplo, do sofisticado argumento linguístico do Padre Anselmo de Aosta, que, se é assentado por uma lógica impecável, cria dificuldades para concebê-lo na exterioridade da língua. Mas não quero discutir agora esse argumento, mas outro, talvez o primeiro que se impõe à discussão sobre a existência de Deus; em primeiro lugar, por ser amplamente usado tanto por leigos quanto por acadêmicos, embora de forma mais sofisticada por estes; em segundo, por procurar estabelecer uma relação com a realidade empírica. Estou falando do argumento cosmológico ou, como é mais conhecido, o argumento da causa primeira.

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

O ateísmo em crise


Sob a denominação de neoateus – termo que já nasce com uma conotação nitidamente pejorativa, tem sido apontado, de forma um tanto equivocada, o aumento, nesta última década, do número de pessoas que professam o ateísmo, principalmente nos Estados Unidos. Não há, contudo, dados confiáveis que confirmem isso. Na verdade, o que se verifica é o aumento no número de publicações pró-ateísmo e de certa “militância” ateísta, sobretudo após os atentados terroristas de 11 de setembro. Essa é uma informação relevante, uma vez que esse acontecimento teve motivações religiosas ou, pelo menos, teve no fundamentalismo religioso uma força propulsora para seu desencadeamento. Nesse caso, a leitura mais apropriada parece ser que o ataque às torres gêmeas expôs inequivocamente os perigos reais do discurso religioso e, em consequência, provocou uma reação por parte de quem até então se mantinha na neutralidade. Muitos ateus resolveram “sair do armário” e fazer sua voz ser ouvida, ocupando espaços antes ocupados apenas pelos adeptos do discurso religioso. A despeito de tanta exposição, o ateísmo continua a provocar a desconfiança de muitas pessoas. No geral, não se concebe que alguém possa seriamente duvidar da existência de Deus. Há quem diga claramente que ateu mesmo não existe nem nunca existiu, uma vez que o ser humano é, por natureza, crédulo. Essa defesa é feita porque, se é verdade que os aviões jogados sobre o complexo do World Trade Center possam provocar uma reação contra o fundamentalismo islâmico em particular, ou, mais radicalmente, contra a religião em si, não é igualmente verdade que alguém no interior de um avião em queda endosse o discurso ateísta, agindo como se Deus não existisse, apenas se limitando a aceitar seu fim iminente. É a velha história de que ninguém é ateu em situações de desespero.