segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

O limite do argumento cosmológico



            Desde que o homem inventou a escrita, por volta de 4.000 a. C., tem o registro escrito a prerrogativa de conservar, para as gerações vindouras, o conhecimento produzido pelo homem. Isso inclui, claro, além da informação obtida por meio do método indutivo e da experiência empírica, os sistemas teóricos nascidos da dedução e reflexão racional. Ao longo da história, utilizou-se o homem dos mais diversos suportes (pedra, tabuleta, papiro, pergaminho, papel, etc.), para possibilitar a transmissão dessa produção científica e filosófica a qualquer homem, em qualquer lugar e no porvir. É claro que sempre houve também a simples transmissão oral das ideias, feita de homem a homem e de pai para filho. O problema, nesse caso, era (e ainda é) a frequência com que ocorrem ruídos nessa comunicação, o que acaba provocando deturpações, acréscimos e reduções das ideias originais. Por esse motivo, é que se faz necessário ao acadêmico, hoje, se intenciona fazer uma pesquisa séria e honesta, a prática de reportar-se sempre ao autor que propôs a teoria que pretende analisar, seja para endossá-la, contribuindo com outros dados, seja para contestá-la, propondo uma teoria substitutiva. Desse modo, ele evita as acusações de ser desinformado, impreciso ou intelectualmente desonesto. Se o registro oral é descartado, nesse caso, por se tratar de informação pouco confiável, a modernidade criou uma possibilidade de redimi-lo dessa condição. Trata-se da gravação do discurso em vídeo. Podemos, por meio desse recurso, ouvir o próprio teórico defendendo suas ideias, o que é fantástico! Foi exatamente por esse meio que tive, inicialmente, contato com o argumento cosmológico Kalam, defendido por seu maior proponente na atualidade: o teólogo e filósofo estadunidense Willian Lane Craig. Ouvi-lo defender o argumento, por exemplo, em vídeos postados no Youtube, é bastante esclarecedor, ainda que a leitura de seus artigos deva ser necessariamente mais enriquecedora, haja vista possibilitar o aprofundamento no tema. De qualquer forma, como contato inicial, a audição de uma exposição teórica pode se revelar bastante produtiva do ponto de vista da compreensão. Apologista cristão, Craig frequentemente é convidado a fazer sua defesa em debates ao vivo contra proeminentes críticos de sua proposta de defender a existência de Deus por meio de argumentos dedutivos. Devo reconhecer, mesmo divergindo de seus argumentos, que ele tem sido muito exitoso na comunicação da defesa que faz. E é justamente essa a vantagem do vídeo: pode-se ouvir da própria boca do autor o que ele, de fato, está propondo em seu sistema explicativo. Feitas essas observações, informo ao leitor deste artigo que, doravante, a apreciação do argumento cosmológico será feita com base no discurso feito por Craig em sua primeira visita a Saddleback, igreja localizada no estado da Califórnia e fundada pelo pastor e escritor Rick Warren. Craig havia sido convidado a discorrer sobre a questão cosmológica “Como o universo surgiu?”. Na ocasião, teve de adaptar seus sofisticados argumentos para um público formado basicamente por leigos.
        Na defesa do teísmo acadêmico, Craig credita devidamente seu argumento cosmológico a Al-Ghazali, teólogo islâmico do século XII, cuja obra é comparada a de São Tomás de Aquino na teologia cristã. Craig expõe à sua plateia o silogismo que resume o argumento Kalam, tal como proposto por Al-Ghazali, para em seguida discutir cada uma de suas premissas. Reproduzo abaixo a síntese do argumento feita por Craig:

1.      Tudo que começa a existir possui uma causa.
2.      O universo começou a existir.
3.      Portanto, o universo teve uma causa.

Conforme já defendi em artigo anterior, a estrutura silogística do argumento Kalam parece válida, uma vez que é difícil demonstrar a falseabilidade de qualquer de suas premissas. Não estou afirmando – é preciso deixar claro – que me convenci da verdade contida nessas premissas. Em vez disso, estou sugerindo que há fortes razões para aceitá-las como verdadeiras. Quem leu o meu artigo O argumento primeiro deve ter percebido que eu não cheguei a pôr em dúvida a primeira premissa, embora faça uma alusão à crítica que a ela fez David Hume. O filósofo escocês propõe que a ideia de causalidade se baseia no desenvolvimento de hábitos em nossa mente, não correspondendo a uma conexão real entre dois eventos. De acordo com Hume, a causalidade é uma ilusão do intelecto humano, o que invalidaria a primeira premissa. No geral, os proponentes dos argumentos pró-teísmo acreditam que tal crítica está superada.
Quanto à segunda premissa, deixei aberta a possibilidade de que não correspondesse a uma verdade, apesar de achar isso pouco provável. Afirmo no artigo supracitado que, sendo verdade que tudo o que veio a existir tem uma causa, uma regressão infinita de causas não é uma hipótese a ser descartada de imediato.  É nesse ponto, aliás, que Craig procura atacar. Ele aponta para o fato de no tempo de Al-Ghazali não haver dados empíricos que pudessem sugerir a finitude do universo, de maneira que esta era deduzida apenas da lógica. Al-Ghazali argumenta que não é lógico que uma sucessão infinita de eventos tenha se dado no passado. A ciência moderna, a partir da proposição da teoria do Big Bang, acabou por dar mais munição a essa ideia, ao demonstrar que um universo em constante expansão implicaria a noção de um início no tempo, quando tal expansão teria começado. No entanto, é bom citar aqui as descobertas científicas do cosmólogo Mário Novello, que parecem minar a noção de que o Big Bang constituiu a origem de tudo. Sua teoria, publicada pela revista Physics Reports, ganhou aceitação na comunidade científica internacional. Consiste em afirmar que o Big Bang foi apenas um ponto de passagem, um momento de transição, ou seja, o universo seria processual, não tendo, dessa forma uma origem, vindo do infinito em direção ao infinito. Tal ideia poderia ser traduzida na máxima de Lavoisier de que “nada se cria, tudo se transforma”. Essa máxima se aplicaria também ao universo. Embora a descoberta de Novello não tenha desferido um golpe mortal na concepção tradicional do Big Bang, apontou para a possibilidade de um universo no qual não haveria necessidade de um início e, consequentemente, de uma causa primeira. De qualquer forma, por faltar-me condição de apreciar adequadamente essa novidade nas discussões sobre o Big Bang, por não alcançar a compreensão de um universo cíclico, em um constante movimento de vai e vem, na condição apenas de um curioso leigo, ainda tenho aceitado como mais plausível presumir um início para o universo. Perceba o leitor, no entanto, que transigir com a segunda premissa se deva mais a uma intuição pessoal ou, talvez, a uma dificuldade cognitiva, do que da impossibilidade real de falseamento de sua proposição básica.
Mas o questionamento das premissas não constitui o cerne da minha crítica ao argumento cosmológico. Na verdade, nem me empenho em fazê-lo. Tenho posto que, ainda que tais premissas sejam verdadeiras, a conclusão a que elas apontam pode não corresponder a uma verdade no mundo extralinguístico. Nesse ponto é preciso fazer algumas considerações: é claro que o argumento dedutivo, estruturado na forma silogística, tem valor como forma de estabelecer conhecimentos, embora não faça vir à tona um dado novo, fornecendo, em vez disso, condições para que, do dado já conhecido, faça-se uma inferência válida. O silogismo constitui a argumentação lógica perfeita. Note-se que a palavra vem do grego e significa “conexão entre ideias”. A origem do termo diz bem os limites desse tipo de argumento. Não seria absurdo supor que o silogismo, trabalhando com a proposição de ideias (premissas), insira-se na discussão jamais encerrada entre os pressupostos teóricos do empirismo, idealismo e racionalismo. Podemos alcançar a realidade das coisas por meio de uma operação estritamente mental, ainda que iniciemos com dados empíricos? É uma hipótese que merece investigação. Pensemos sobre isso a partir do exemplo clássico do argumento:

1.      Todo homem é mortal.
2.      Sócrates é homem.
3.      Logo, Sócrates é mortal.

Não há dúvidas de que o silogismo proposto por Aristóteles encerra uma verdade. Pelo seu próprio mecanismo de funcionamento, dadas duas premissas, tem-se que, sendo elas verdadeiras, necessariamente a conclusão que deriva delas tem de ser verdadeira.
No caso, a primeira proposição, isto é, “Todo homem é mortal” é uma ideia, no entanto apresenta uma correspondência na realidade: é um fato natural constatado pela experiência. Muitos homens morreram, sendo a morte uma constante na história humana. Assim, não há dúvidas de que a proposição inicial seja verdadeira, uma vez que se trata de um conhecimento compartilhado por todos os homens.
Por sua vez, a segunda premissa, “Sócrates é homem” também é clara, cristalina. Trata-se de uma ideia que extrapola a formulação linguística e encontra igualmente sua concreção na experiência. Embora não tenhamos conhecido Sócrates pessoalmente, a descrição feita por seus discípulos corresponde à ideia que temos do que é um homem. E tal ideia se baseia em dados empíricos. O homem apresenta uma série de atributos que o difere dos outros seres e esses atributos são perceptíveis. O homem, por exemplo, fala, é capaz de formular teorias sobre a realidade, pode ensinar a outro homem, possui características físicas peculiares, etc. Sócrates se enquadra em toda essa descrição. Assim, a verdade da segunda premissa não é menos evidente que a da primeira.
Uma vez que as duas premissas são verdadeiras, decorre que a conclusão que delas se extrai também deva ser verdadeira. Portanto, é verdade que “Sócrates é mortal”.
Sim, a lógica é perfeita, mas a verdade a que se chega com o raciocínio está ainda apenas no plano das ideias. Embora se tenha comprovado que as duas premissas correspondem a fatos da realidade, a conclusão que delas se extrai não foi verificada e  é forçoso que seja, pois, se nunca o for, se nenhuma conclusão extraída de um silogismo válido se submeter à verificação, não haverá garantia de que corresponda, de fato, a um dado da realidade. Certamente que Aristóteles quis, ao propor o argumento, criar uma forma de raciocínio válida por si mesma. Mas, se desde que foi proposto o argumento dedutivo nunca se submetesse ao crivo da verificação empírica, jamais haveria certeza de que não se trata apenas de um artifício, embora muito engenhoso, da linguagem, em vez de um argumento real capaz de descrever o mundo sensível. E não há dúvida de que críticos surgiriam reclamando isso. Não se trata aqui de defender que o conhecimento só pode ser obtido por meio da empiria, mas, em vez disso, defender que qualquer proposição que se queira verdadeira não pode ignorar o mundo sensível, constituindo-se apenas em ideia pura. 
É interessante verificar que nossa percepção do mundo começa a partir do que conseguimos alcançar com nossos sentidos. Embora não ignore que haja perspectivas divergentes, vejo como evidente que as ideias não sejam inatas. É fácil verificar que, no geral, a ideia deriva da experiência sensível. Sem nunca ter visto o verde, por exemplo, o cego não consegue alcançar a ideia do que seja verde. A cor verde é uma abstração da realidade, não se trata de uma ideia nascida com o indivíduo. Isso não quer dizer que todas as ideias correspondam a dados empíricos, mas as ideias que podem ser aceitas como válidas para descrever o que está além da sua formulação linguística tem que se apoiar, de alguma forma, na realidade concreta. De outra forma, possibilita o questionamento eterno: como saber que se trata de um conhecimento seguro, confiável, e não uma armadilha da linguagem? Por essa razão, é necessário que a conclusão do argumento dedutivo se sustente, ainda que minimamente, no mundo sensível. Pelo menos uma vez isso deve ser demonstrado, para que qualquer desconfiança em relação a esse tipo de argumento seja dirimida.
É claro que a proposição “Sócrates é mortal” encontrou uma correspondência na realidade. Sabemos que Sócrates morreu depois de ter se deixado condenar sob a acusação de não acreditar nos deuses gregos e corromper os jovens atenienses com suas ideias. Sendo assim, o silogismo aristotélico encontrou um exemplo que o pudesse validar como algo mais do que pura linguagem.
Mas cabe ainda um questionamento: qualquer silogismo válido apresenta-se da mesma forma que esse exemplo clássico? Basta comprovar a correspondência de um silogismo com a realidade para validar todos os demais? A meu ver, a resposta é não. Afirmo isso porque já se pôde verificar que determinados silogismos apresentam características bem singulares que o distinguem qualitativamente do exemplo clássico. Este é o caso do silogismo de Al-Ghazali, atualizado por Craig. Observe-se que, tal como o modelo aristotélico, ele parte de premissas construídas a partir de dados empíricos. Vejamos, pois.

1ª premissa: Tudo que começa a existir possui uma causa.

Parece razoável, como já disse, pressupor que isso seja verdade. Pelo menos a observação das coisas existentes hoje valida essa proposição. Partamos para a seguinte:

2ª premissa: O universo começou a existir.

Concedo este ponto, apesar das observações anteriormente feitas. Não posso negar que o modelo padrão da teoria do Big Bang, apesar das críticas que já lhe foram feitas, ainda está em voga. É possível que a premissa, de fato, encerre uma verdade. Vejamos a conclusão:

Conclusão: Portanto, o universo teve uma causa.

A conclusão é válida do ponto de vista lógico e, diferente do que poderia esperar o leitor, sugere, sim, uma correspondência fora do discurso. Pelo menos considerando o argumento até aqui. O problema é que em sua preleção em Saddleback, Craig não se limita a essa conclusão, mas procura dela extrair desdobramentos. Ele procura apontar, a partir de outros argumentos dedutivos complementares, as propriedades que essa causa do universo teria. Craig defende que:

1.    A causa do universo deve transcender o espaço e o tempo, uma vez que teria criado o espaço e o tempo;
2.      Uma vez que não está no tempo, esta causa precisa ser imutável;
3.      Uma vez que não está no espaço, ela precisa ser imaterial ou não física;
4.   Desde que trouxe toda a matéria e energia à existência, deve ter um poder inimaginável;
5.     Finalmente esta primeira causa precisa ser pessoal, dispondo de livre-arbítrio, o que constituiria a única explicação possível para o efeito (o universo) ser contingente e a causa ser eterna. Ou seja, essa causa é anterior ao universo porque o criou de forma deliberada.
6.     Conclui-se, portanto, que o universo teria um criador pessoal do universo, sem começo, não causado, que transcende o tempo, transcende o espaço, imutável, imaterial e tremendamente poderoso.

Não sou ingênuo de achar que Craig pretendia, com a exposição do argumento cosmológico, apenas demonstrar que o universo tinha uma causa. Esse era apenas um degrau para se ir mais além na sua, não claramente assumida, apologia ao Cristianismo. Ao propor, no entanto, que a causa que havia demonstrado com o silogismo de Al-Ghazali tem de possuir as propriedades descritas acima, leva-nos necessariamente de volta ao silogismo original, mesmo que as propriedades sejam deduzidas de argumentos complementares e não exatamente do argumento inicial de Al-Ghazali. Não se pode ignorar, no entanto, que tais desdobramentos estão implícitos na conclusão silogística. Sim, porque já se presumia uma causa para o universo que seria, necessariamente, de natureza diferente deste. Ainda na apresentação do argumento de Al-Ghazali, Craig, reportando-se ao seu livro “A incoerência do filósofos”, endossa a defesa do teólogo muçulmano de que “desde que nada começa a existir sem uma causa, deve haver um criador transcendente ao universo”. Fica claro, assim, que já se presumia nessa ideia de transcendência uma distinção qualitativa daquilo que é o seu oposto, o universo contingente. Ou seja, os atributos do essencialmente existente não poderiam coincidir com os atributos daquilo que veio à existência e, tendo vindo à existência, não poderia ter vindo por si mesmo. Craig acaba por deixar claro também o propósito do argumento. Primeiro, demonstra-se logicamente que o universo tem uma causa que, de antemão, é qualitativamente distinta dele, haja vista ser necessário que seja, essencialmente, auto-existente, incausada. Em seguida, fazendo uso do mesmo procedimento, demonstra-se que a tal causa precisa ter certos atributos que, coincidentemente, são os mesmo atributos apontados para o Deus Cristão.
O que não consigo deixar de notar é o fato de o proponente do argumento ser um teísta cristão e já se lançar à formulação do silogismo com o propósito de provar a conclusão a que, de fato, o argumento chega. Ele crê em um Deus criador e o argumento lhe fornece uma causa  primeira para o universo; ele crê que este Deus possui certos atributos e, coincidentemente, a dedução aponta os mesmos atributos para essa causa do universo. Apesar disso, não se assume claramente que o argumento seja proposto para defender o Cristianismo! Mas como não entendê-lo quando Craig arremata seu argumento afirmando que “Judeus, Cristãos, Muçulmanos, e todos os que acreditam na doutrina bíblica da criação têm bases sólidas, científicas e filosóficas para acreditar que Deus criou o universo há um tempo finito atrás do nada”? Alguém poderá protestar aqui: mas Craig está apenas apontando para a plausibilidade de qualquer monoteísmo que conceba um criador para o universo! Tudo bem, mas o problema é que o teólogo continua: “É dito que os salvos no céu cantarão: Digno és Senhor, de receber glória, e honra, e poder; porque tu criaste todas as coisas e por tua vontade são e foram criadas (Apo 4:11)”. Fica claro neste desfecho que Craig pretende que o público que o assiste conclua que a causa primeira que foi demonstrada é o mesmo Senhor referido na citação do livro do Apocalipse, isto é, Jesus de Nazaré.
Mas toda essa operação que se segue à proposição inicial do silogismo muda a sua natureza. Não se conclui apenas que o universo tem uma causa, mas se sabe que essa causa é transcendente e tem atributos. É uma situação singular. Se antes, partindo de premissas verificáveis empiricamente foi preciso atestar a validade, fora do discurso, de uma conclusão igualmente verificável empiricamente, agora simplesmente esse procedimento se revela mais que necessário. Isso porque Craig parte de premissas verificáveis empiricamente para uma conclusão fora do mundo sensível, o que traz à tona um problema não contemplado pelo silogismo clássico. Este modelo silogístico não trazia em seu bojo qualquer dado que não pudesse ser verificado empiricamente. Uma vez que o silogismo de Craig o traz, como saber se sua conclusão é válida se o que está fora do mundo sensível é, por natureza, inverificável  pela experiência empírica? Temos aqui um problema epistemológico. Aliás, seria necessário provar primeiro a existência do transcendente, do que não pertence ao campo do sensível para ser possível considerar a plausibilidade do argumento. Não adianta, no caso, afirmar que o silogismo por si só deduz a existência do metafísico, do que está fora do mundo sensível, pois, por se tratar de algo inteiramente novo, era necessário provar-se de antemão que a dedução serve para descrever qualquer realidade fora da linguagem e também fora do mundo sensível, o que não é evidente por si mesmo. A crítica que aponta o compromisso do autor deste artigo com o empirismo também não resolve o problema, uma vez que não aponta outra saída para a validação do argumento dedutivo que pretende alcançar um mundo fora do sensível.
Compreendo que a crítica que faço tem grandes implicações. Estou mexendo em um grande vespeiro e pondo em xeque a validade de grande parte do conhecimento obtido pelas ciências humanas, sobretudo daquelas ocupadas em descrever processos invisíveis e não verificáveis empiricamente, como é o caso, por exemplo, da Psicologia. O fato é que qualquer área do conhecimento humano precisará, sim, de haver-se com a questão epistemológica básica de como garantir que os conceitos transcendam a linguagem e alcancem à descrição da realidade. Penso que não dá para ficar apenas com os conceitos e as ideias puras sem buscar sua correspondência fora da linguagem. Isso não implica, contudo, que só é possível obter conhecimento válido pela verificação empírica, mas, obviamente, tal conhecimento não pode simplesmente ignorar a existência do mundo sensível. Por essa razão é que qualquer pretensa realidade metafísica não pode ser estabelecida de forma apriorística, apenas por meio da dedução. Mas não nego que o argumento cosmológico é plausível, que William Lane Craig é um grande apologista do Cristianismo e que o teísmo é uma proposição respeitável e academicamente defensável. Mas a proposição do argumento está longe de provar a existência de Deus. E seria mesmo necessário prová-lo?
Sérgio Santos da Silva

2 comentários:

  1. Mais um fabuloso artigo do Dr. Sérgio Santos. Agrada-me ler suas ideias, sempre bem escritas e formuladas. E embora, desconfie da validade lógica de certas colocações, e tenha certeza da implausibilidade da conclusão, confesso francamente que este artigo representa um significativo avanço na causa do ateísmo do autor. Pretendo no futuro fornecer refutação para todas as colocações aqui apresentadas como uma forma de instigar o debate livre e respeitoso das ideias, algo que o Dr. Sérgio Santos certamente aprecia. Abraço!

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  2. Interessante. Em breve posto uma resposta no site www.logosapologetica.com

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