Idiota. No geral, entende-se a palavra como um xingamento.
De acordo com o Houaiss, é algo que se diz da “pessoa que carece de
inteligência, de discernimento; tolo, ignorante, estúpido” ou ainda “pessoa
pretensiosa, vaidosa, tola”. É fácil constatar que o uso comum não difere do
dicionarizado. Chamar alguém de idiota é convocá-lo para uma briga. Ou seja, não
é nada lisonjeiro. Etimologicamente, porém, idiota remete à raiz idios, que significa próprio, sendo o idiota, no passado,
aquele indivíduo que se dedicava apenas ao que lhe é próprio, privado,
particular, tornando-se alheio ao que é de interesse público e geral. O idiota
é alguém preso no seu mundinho e que não participa do que acontece ao seu
entorno. É nesse sentido que Olavo de Carvalho usa a palavra no seu mais novo
livro, O mínimo que você precisa saber
para não ser um idiota, lançado neste ano pela editora Record. Nele encontramos
193 ensaios escritos pelo filósofo entre 1997 e 2013 e publicados nos mais
diferentes jornais do país. Os textos versam sobre política e fornecem ao
leitor, como o título promete, o mínimo para que este transcenda o lugar comum da
análise política ordinária, já tão viciada por anos de doutrinação ideológica
esquerdizante, e amplie seus próprios horizontes.
Para as mentes mais suscetíveis, o título do livro parecerá,
de todo modo, arrogante. Ao prometer o mínimo para não ser um idiota, o autor deixa
sugerido que não pertence ao grupo de idiotas, o que lhe confere certo ar superior.
O título, assim, ganha um tom professoral, alçando o autor na condição de quem
sabe algo desconhecido pelos demais. Mas é justamente esse o objetivo de Olavo
de Carvalho: levar o leitor à compreensão de que tem algo a dizer que ele,
leitor, talvez não chegue a saber de outro modo. Sem preocupar-se em ser mal
compreendido ou tachado como louco, Olavo age como o indivíduo que, escapando
da caverna de Platão e alcançando pela primeira vez a verdade solar, volta ao
mundo das sombras para anunciar aos que lá ficaram que a realidade é muito
maior e mais profunda do que eles poderiam supor. Infelizmente, sabemos o que
acontece no mito platônico com os que enxergam mais que os outros. Olavo fala
com a autoridade de quem conhece os dois mundos e que aprendeu a língua de
ambos.
O livro inteiro é uma denúncia. O que Olavo de Carvalho
procura revelar ao longo de 615 páginas é o modus
operandi da militância de esquerda, que, seguindo a cartilha de Antonio
Gramsci, age de modo programático, de forma paulatina e indolor, em prol da
instauração de uma nova ordem mundial regida pela ideologia comunista. Esta, cuja
morte foi equivocadamente decretada com a derrocada do projeto socialista
soviético, nunca esteve tão viva, crescendo de modo parasitário nas
universidades, nas redações de jornais e no mercado editorial, reproduzindo-se por
meio da produção científica, artística e cultural: dissertações, teses, poesia,
música popular, cinema, etc. – tudo traspassado pela perspectiva marxista de
luta de classes. Nesse panorama, não existe espaço para a leitura de um von
Mises, por exemplo. Ou de um Hayek. Ou um David Landes.
Segundo Olavo de Carvalho, uma vez que a estratégia da luta
armada não se mostrou eficaz, a esquerda entendeu que era preciso inocular o
Comunismo na mente das pessoas por meio de expedientes mais sutis: seria suficiente mentir e omitir
a verdade do indivíduo de forma sistemática, de modo que este só consiga
raciocinar a partir das categorias de pensamento a que é apresentado durante
sua formação escolar e acadêmica. Toda a realidade existente passa a ser,
portanto, a realidade conforme o Partido. O indivíduo, assim, torna-se um
idiota e em todos os sentidos. Um idiota que acredita apenas no que seu limitado
conhecimento consegue alcançar, ou seja, no que aprendeu em livros de
doutrinação esquerdista, no que sabe “de ouvido” ou no que lê em sites como a
Wikipedia.
Olavo alerta ainda para a estratégia usada pela esquerda
para fugir ao debate. Em vez de mostrar o erro do adversário, procura tornar
ilegítima qualquer coisa que este venha a dizer. A solução é simples: basta chamá-lo
de direitista, fascista, reacionário, defensor da ditadura, tucano, burguês ou inimigo do
povo. Basta mostrá-lo como louco, um propagador de teorias conspiratórias e
pronto! – Não é necessário dizer mais nada. Poderá haver estratégia
melhor?
Muitos são os temas abordados pelo também autor de O jardim das aflições e de O imbecil coletivo. Olavo de Carvalho
optou no livro pela defesa de seu pensamento de modo claro e contundente, sendo,
em alguns momentos, agressivo até. Certamente essa característica de seu estilo
é motivo de muitas críticas, apesar de a linguagem adotada no livro ser incomparavelmente mais
suave do que a empregada no seu programa True
Outspeak, veiculado pelo Youtube, repleto de palavrões, o que o tornou um
personagem bastante conhecido e atacado na internet. Sim, Olavo não é o tipo de
intelectual comportado, preocupado em angariar simpatias. Mas, se ele pode ser
criticado por não ter boas maneiras, em compensação nos presenteia com um
raciocínio impecável e baseado em fatos verificáveis por qualquer um. Para
refutá-lo, portanto, o leitor não pode limitar-se ao xingamento, como se isso
significasse usar da mesma arma de que se vale o autor. Olavo de Carvalho pode
ser tudo, menos um idiota.
sim me serviu muito bem para a minha irma que sofre de idiotice precoce.
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