sábado, 21 de dezembro de 2013

Um antídoto para a idiotice

Idiota. No geral, entende-se a palavra como um xingamento. De acordo com o Houaiss, é algo que se diz da “pessoa que carece de inteligência, de discernimento; tolo, ignorante, estúpido” ou ainda “pessoa pretensiosa, vaidosa, tola”. É fácil constatar que o uso comum não difere do dicionarizado. Chamar alguém de idiota é convocá-lo para uma briga. Ou seja, não é nada lisonjeiro. Etimologicamente, porém, idiota remete à raiz idios, que significa próprio, sendo o idiota, no passado, aquele indivíduo que se dedicava apenas ao que lhe é próprio, privado, particular, tornando-se alheio ao que é de interesse público e geral. O idiota é alguém preso no seu mundinho e que não participa do que acontece ao seu entorno. É nesse sentido que Olavo de Carvalho usa a palavra no seu mais novo livro, O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota, lançado neste ano pela editora Record. Nele encontramos 193 ensaios escritos pelo filósofo entre 1997 e 2013 e publicados nos mais diferentes jornais do país. Os textos versam sobre política e fornecem ao leitor, como o título promete, o mínimo para que este transcenda o lugar comum da análise política ordinária, já tão viciada por anos de doutrinação ideológica esquerdizante, e amplie seus próprios horizontes.

Para as mentes mais suscetíveis, o título do livro parecerá, de todo modo, arrogante. Ao prometer o mínimo para não ser um idiota, o autor deixa sugerido que não pertence ao grupo de idiotas, o que lhe confere certo ar superior. O título, assim, ganha um tom professoral, alçando o autor na condição de quem sabe algo desconhecido pelos demais. Mas é justamente esse o objetivo de Olavo de Carvalho: levar o leitor à compreensão de que tem algo a dizer que ele, leitor, talvez não chegue a saber de outro modo. Sem preocupar-se em ser mal compreendido ou tachado como louco, Olavo age como o indivíduo que, escapando da caverna de Platão e alcançando pela primeira vez a verdade solar, volta ao mundo das sombras para anunciar aos que lá ficaram que a realidade é muito maior e mais profunda do que eles poderiam supor. Infelizmente, sabemos o que acontece no mito platônico com os que enxergam mais que os outros. Olavo fala com a autoridade de quem conhece os dois mundos e que aprendeu a língua de ambos.

O livro inteiro é uma denúncia. O que Olavo de Carvalho procura revelar ao longo de 615 páginas é o modus operandi da militância de esquerda, que, seguindo a cartilha de Antonio Gramsci, age de modo programático, de forma paulatina e indolor, em prol da instauração de uma nova ordem mundial regida pela ideologia comunista. Esta, cuja morte foi equivocadamente decretada com a derrocada do projeto socialista soviético, nunca esteve tão viva, crescendo de modo parasitário nas universidades, nas redações de jornais e no mercado editorial, reproduzindo-se por meio da produção científica, artística e cultural: dissertações, teses, poesia, música popular, cinema, etc. – tudo traspassado pela perspectiva marxista de luta de classes. Nesse panorama, não existe espaço para a leitura de um von Mises, por exemplo. Ou de um Hayek. Ou um David Landes.

Segundo Olavo de Carvalho, uma vez que a estratégia da luta armada não se mostrou eficaz, a esquerda entendeu que era preciso inocular o Comunismo na mente das pessoas por meio de expedientes mais sutis: seria suficiente mentir e omitir a verdade do indivíduo de forma sistemática, de modo que este só consiga raciocinar a partir das categorias de pensamento a que é apresentado durante sua formação escolar e acadêmica. Toda a realidade existente passa a ser, portanto, a realidade conforme o Partido. O indivíduo, assim, torna-se um idiota e em todos os sentidos. Um idiota que acredita apenas no que seu limitado conhecimento consegue alcançar, ou seja, no que aprendeu em livros de doutrinação esquerdista, no que sabe “de ouvido” ou no que lê em sites como a Wikipedia.

Olavo alerta ainda para a estratégia usada pela esquerda para fugir ao debate. Em vez de mostrar o erro do adversário, procura tornar ilegítima qualquer coisa que este venha a dizer. A solução é simples: basta chamá-lo de direitista, fascista, reacionário, defensor da ditadura, tucano, burguês ou inimigo do povo. Basta mostrá-lo como louco, um propagador de teorias conspiratórias e pronto! – Não é necessário dizer mais nada. Poderá haver estratégia melhor?

Muitos são os temas abordados pelo também autor de O jardim das aflições e de O imbecil coletivo. Olavo de Carvalho optou no livro pela defesa de seu pensamento de modo claro e contundente, sendo, em alguns momentos, agressivo até. Certamente essa característica de seu estilo é motivo de muitas críticas, apesar de a linguagem adotada no livro ser incomparavelmente mais suave do que a empregada no seu programa True Outspeak, veiculado pelo Youtube, repleto de palavrões, o que o tornou um personagem bastante conhecido e atacado na internet. Sim, Olavo não é o tipo de intelectual comportado, preocupado em angariar simpatias. Mas, se ele pode ser criticado por não ter boas maneiras, em compensação nos presenteia com um raciocínio impecável e baseado em fatos verificáveis por qualquer um. Para refutá-lo, portanto, o leitor não pode limitar-se ao xingamento, como se isso significasse usar da mesma arma de que se vale o autor. Olavo de Carvalho pode ser tudo, menos um idiota.


Um comentário:

  1. sim me serviu muito bem para a minha irma que sofre de idiotice precoce.

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