terça-feira, 11 de julho de 2017

Biografia feia, mas um belo espelho

Abuso de clichês, trocadilhos infames, informalidade excessiva e outros problemas de estilo. Essas são características perceptíveis no livro Caetano – uma biografia, de autoria de Carlos Eduardo Drummond e Marcio Nolasco, lançado em maio deste ano pelo selo Seoman. O próprio biografado acabaria revelando seu desagrado pela biografia, não em virtude de alguma inconfidência sobre fatos de sua vida, mas devido ao seu “baixo valor literário”. Apesar de concordar com o cantor e compositor nesse ponto, considero que a biografia escrita pela dupla Drummond e Nolasco oferece uma grande contribuição para a compreensão do multiartista Caetano Veloso.

Nas 544 páginas do livro, acompanhamos toda a trajetória do autor de Alegria, alegria, desde sua infância em Santo Amaro da Purificação até a sua maturidade artística, já com uma carreira nacional e internacional consolidada. Para que se tenha ideia da abrangência temporal da biografia, até mesmo a apresentação de Caetano ao lado de Gilberto Gil e Anitta na abertura das olímpiadas de 2016 é mencionada. Ou seja, um evento que remete a menos de 1 ano atrás. É justamente esse relato minucioso que torna a leitura dessa obra fundamental para quem deseja uma maior aproximação com o universo de Caetano Veloso. Nesse sentido, não há dúvidas de que a biografia é fruto de um grande esforço de pesquisa, o que fica claro diante do grande número de entrevistas feitas, da bibliografia utilizada, das notícias e reportagens consultadas, da colaboração de amigos e parentes, além das informações colhidas com o próprio Caetano, que tomou conhecimento da empreitada no final da década de 1990. Trata-se, portanto, de um registro muito bem documentado da vida e obra de um dos maiores artistas brasileiros.

Por essa razão, sua leitura é enriquecedora, uma vez que muitas informações ali contidas lançam luz sobre a origem e significado de diversas canções, o contexto da criação, as fontes de inspiração, as referências artísticas, a concepção por trás de um dado trabalho, etc. Além disso, tomamos conhecimento do desenhista, ator, cineasta e escritor Caetano Veloso. Suas investidas em outras expressões artísticas são pouco conhecidas, e, por isso mesmo, fornecem-nos importantes elementos para entendermos melhor de que matéria é feito o cantor e compositor baiano. Da mesma forma, podemos entendê-lo melhor por meio do conhecimento de como se deu sua aproximação com determinados artistas e correntes artísticas, e de que forma sua própria arte era recepcionada pela crítica e pelo público.

Bem, as informações são abundantes e o livro é um catatau, mas sua leitura, apesar dos referidos problemas de estilo, flui naturalmente, de sorte que percorremos as suas mais de quinhentas páginas sem nos darmos conta disso. Entendo, depois de ter atingido o ponto final de Caetano – uma biografia, que o livro não me proporcionou nenhum prazer estético, no entanto, para quem se interessa, como eu, pela história da música popular brasileira, certamente é muito melhor lê-lo do que não lê-lo.

Sérgio Santos da Silva


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