Abuso de clichês, trocadilhos
infames, informalidade excessiva e outros problemas de estilo. Essas são características
perceptíveis no livro Caetano – uma
biografia, de autoria de Carlos Eduardo Drummond e Marcio Nolasco, lançado
em maio deste ano pelo selo Seoman. O próprio biografado acabaria revelando seu
desagrado pela biografia, não em virtude de alguma inconfidência sobre fatos de
sua vida, mas devido ao seu “baixo valor literário”. Apesar de concordar com o cantor e compositor nesse ponto, considero que a biografia escrita pela dupla Drummond e
Nolasco oferece uma grande contribuição para a compreensão do multiartista
Caetano Veloso.
Nas 544 páginas do livro,
acompanhamos toda a trajetória do autor de Alegria,
alegria, desde sua infância em Santo Amaro da Purificação até a sua
maturidade artística, já com uma carreira nacional e internacional consolidada.
Para que se tenha ideia da abrangência temporal da biografia, até mesmo a
apresentação de Caetano ao lado de Gilberto Gil e Anitta na abertura das
olímpiadas de 2016 é mencionada. Ou seja, um evento que remete a menos de 1 ano
atrás. É justamente esse relato minucioso que torna a leitura dessa obra
fundamental para quem deseja uma maior aproximação com o universo de Caetano
Veloso. Nesse sentido, não há dúvidas de que a biografia é fruto de um grande
esforço de pesquisa, o que fica claro diante do grande número de entrevistas
feitas, da bibliografia utilizada, das notícias e reportagens consultadas, da
colaboração de amigos e parentes, além das informações colhidas com o próprio
Caetano, que tomou conhecimento da empreitada no final da década de 1990. Trata-se,
portanto, de um registro muito bem documentado da vida e obra de um dos maiores
artistas brasileiros.
Por essa razão, sua leitura é
enriquecedora, uma vez que muitas informações ali contidas lançam luz sobre a
origem e significado de diversas canções, o contexto da criação, as fontes de
inspiração, as referências artísticas, a concepção por trás de um dado
trabalho, etc. Além disso, tomamos conhecimento do desenhista, ator, cineasta e
escritor Caetano Veloso. Suas investidas em outras expressões artísticas são
pouco conhecidas, e, por isso mesmo, fornecem-nos importantes elementos para
entendermos melhor de que matéria é feito o cantor e compositor baiano. Da
mesma forma, podemos entendê-lo melhor por meio do conhecimento de como se deu
sua aproximação com determinados artistas e correntes artísticas, e de que forma
sua própria arte era recepcionada pela crítica e pelo público.
Bem, as informações são
abundantes e o livro é um catatau, mas sua leitura, apesar dos referidos
problemas de estilo, flui naturalmente, de sorte que percorremos as suas mais
de quinhentas páginas sem nos darmos conta disso. Entendo, depois de ter atingido
o ponto final de Caetano – uma biografia,
que o livro não me proporcionou nenhum prazer estético, no entanto, para quem
se interessa, como eu, pela história da música popular brasileira, certamente é
muito melhor lê-lo do que não lê-lo.
Sérgio Santos da Silva
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