quinta-feira, 29 de agosto de 2013

A divina música

Este texto foi escrito ao som dos prelúdios de Charles-Valentin Alkan. Para quem não sabe, prelúdio, inicialmente um gênero musical introdutório de obras maiores como óperas, no contexto da estética romântica passou também a designar peças feitas exclusivamente para serem executadas ao piano. Um dos grandes compositores do período romântico foi Chopin, sobre o qual se produziu um excelente filme, datado de 1945, ao qual pude assistir no primeiro semestre deste ano. A song to remember (em português, À noite sonhamos), dirigido por Charles Vidor, conta a história do músico polonês e sua relação tumultuada com a romancista George Sand, adepta da estética romântica e feminista. O filme, que teve 6 indicações ao Oscar, é uma bela película, capaz de comover o espectador, sobretudo pela excelente atuação de Cornel Wilde, que encarna o protagonista. Evidentemente, a própria música de Chopin penetra na alma, provocando arrebatamentos. As melodias suaves, intercaladas de notas mais incisivas, fizeram-me capitular diante da resistência em ouvir música, a simples música, a que nos fala sem necessidade alguma de letra. E como tenho feito descobertas depois disso! O compositor francês Charles-Valentin Alkan foi uma delas. Amigo pessoal de Chopin, Alkan foi um dos maiores pianistas de sua época. Enquanto escrevo estas linhas finais, sua música, vinda do meu quarto, envolve-me e me dá a certeza de que a vida esconde, sim, grandes mistérios. Nesses últimos meses, em que meu interesse tem se voltado para a transcendência, para a compreensão de que a existência não pode encerrar-se na matéria, a chamada música erudita soa-me como uma forte evidência da existência de Deus.

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