Este texto foi escrito ao som dos prelúdios de
Charles-Valentin Alkan. Para quem não sabe, prelúdio, inicialmente um gênero
musical introdutório de obras maiores como óperas, no contexto da estética
romântica passou também a designar peças feitas exclusivamente para serem executadas
ao piano. Um dos grandes compositores do período romântico foi Chopin, sobre o
qual se produziu um excelente filme, datado de 1945, ao qual pude assistir no primeiro
semestre deste ano.
A song to remember
(em português,
À noite sonhamos),
dirigido por Charles Vidor, conta a história do músico polonês e sua relação tumultuada
com a romancista George Sand, adepta da estética romântica e feminista. O filme,
que teve 6 indicações ao Oscar, é uma bela película, capaz de comover o
espectador, sobretudo pela excelente atuação de Cornel Wilde, que encarna o
protagonista. Evidentemente, a própria música de Chopin penetra na alma, provocando
arrebatamentos. As melodias suaves, intercaladas de notas mais incisivas,
fizeram-me capitular diante da resistência em ouvir música, a simples música, a
que nos fala sem necessidade alguma de letra. E como tenho feito descobertas
depois disso! O compositor francês Charles-Valentin Alkan foi uma delas. Amigo
pessoal de Chopin, Alkan foi um dos maiores pianistas de sua época. Enquanto
escrevo estas linhas finais, sua música, vinda do meu quarto, envolve-me e me
dá a certeza de que a vida esconde, sim, grandes mistérios. Nesses últimos
meses, em que meu interesse tem se voltado para a transcendência, para a
compreensão de que a existência não pode encerrar-se na matéria, a chamada música
erudita soa-me como uma forte evidência da existência de Deus.
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