segunda-feira, 4 de junho de 2012

O direito de existir


Não acredito na existência de Deus. Fazer tal afirmação, em um país de maioria teísta e cristã, configura-se como algo muito temerário, sobretudo quando se paga um preço tão alto – a condenação sumária de toda a sociedade – por fazê-la.  Portanto, se a faço é porque tenho fortes razões para isso. Quero citar aqui apenas duas: em primeiro lugar, não existe nenhuma prova ou evidência suficiente que me leve a acreditar na existência de um ser todo-poderoso e pessoal; em segundo, o posicionamento ateísta é tão defensável quanto a crença em um Deus.
Quanto ao primeiro ponto, tenho verificado como as tentativas de provar a existência de Deus têm esbarrado em argumentos frágeis e subjetivos. Por exemplo: a perfeição da natureza testificaria a existência de um ser superior que seria responsável por sua criação. O problema desse argumento é que a validade da primeira premissa – isto é, a natureza é perfeita – é perfeitamente questionável. Como sustentar que há perfeição na natureza quando espécies são extintas por catástrofes naturais, quando placas tectônicas provocam terremotos ou quando pessoas nascem com má formação genética? Na verdade, o argumento só considera o que existe de positivo no mundo, como uma semente originar uma planta, ou um novo ser humano vir à existência. É frágil e subjetivo.
Em relação ao segundo ponto, quero deixar claro que, filosoficamente, tanto o teísmo quanto o ateísmo se configuram como hipóteses. É possível que exista um ser onipotente, onisciente e onipresente, criador do universo e de tudo o que nele há. É igualmente possível que ele simplesmente não exista. Não existem provas claras e irrefutáveis para nenhum dos lados. Caso existisse, não haveria ateus. Ou não haveria crentes. Por que, então, assumo o ateísmo? É simples: quem faz uma afirmação é que deve ter o ônus da prova. Se eu disser que existe um dragão vermelho na órbita do planeta Marte, devo provar minha afirmação e não a pessoa que duvida da minha proposição e que, por falta de maiores evidências, prefere negá-la.
Diante das razões apresentadas, vejo legitimidade na minha descrença em uma divindade. Não creio que deva me submeter ao pensamento da maioria, ainda que não me submeter signifique correr o risco de ser discriminado e apontado como um ser imoral, perigoso ou digno de pena. Infelizmente, é isso, no geral, o que acontece. Mas creio – e com todas as minhas forças – que devo lutar para combater o preconceito e a intolerância de quem acha que seu modo de enxergar o mundo deve ser imposto a todos os homens. Luto, no final das contas, pelo meu direito de existir, assim como sou.
Sérgio Santos da Silva

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