Não acredito na existência de
Deus. Fazer tal afirmação, em um país de maioria teísta e cristã, configura-se
como algo muito temerário, sobretudo quando se paga um preço tão alto – a
condenação sumária de toda a sociedade – por fazê-la. Portanto, se a faço é porque tenho fortes
razões para isso. Quero citar aqui apenas duas: em primeiro lugar, não existe
nenhuma prova ou evidência suficiente que me leve a acreditar na existência de
um ser todo-poderoso e pessoal; em segundo, o posicionamento ateísta é tão
defensável quanto a crença em um Deus.
Quanto ao primeiro ponto, tenho
verificado como as tentativas de provar a existência de Deus têm esbarrado em
argumentos frágeis e subjetivos. Por exemplo: a perfeição da natureza testificaria
a existência de um ser superior que seria responsável por sua criação. O
problema desse argumento é que a validade da primeira premissa – isto é, a
natureza é perfeita – é perfeitamente questionável. Como sustentar que há
perfeição na natureza quando espécies são extintas por catástrofes naturais,
quando placas tectônicas provocam terremotos ou quando pessoas nascem com má
formação genética? Na verdade, o argumento só considera o que existe de
positivo no mundo, como uma semente originar uma planta, ou um novo ser humano vir à
existência. É frágil e subjetivo.
Em relação ao segundo ponto, quero
deixar claro que, filosoficamente, tanto o teísmo quanto o ateísmo se
configuram como hipóteses. É possível que exista um ser onipotente, onisciente
e onipresente, criador do universo e de tudo o que nele há. É igualmente
possível que ele simplesmente não exista. Não existem provas claras e
irrefutáveis para nenhum dos lados. Caso existisse, não haveria ateus. Ou não
haveria crentes. Por que, então, assumo o ateísmo? É simples: quem faz uma
afirmação é que deve ter o ônus da prova. Se eu disser que existe um dragão
vermelho na órbita do planeta Marte, devo provar minha
afirmação e não a pessoa que duvida da minha proposição e que, por falta de
maiores evidências, prefere negá-la.
Diante das razões apresentadas,
vejo legitimidade na minha descrença em uma divindade. Não creio que deva me
submeter ao pensamento da maioria, ainda que não me submeter signifique correr
o risco de ser discriminado e apontado como um ser imoral, perigoso ou digno de
pena. Infelizmente, é isso, no geral, o que acontece. Mas creio – e com todas
as minhas forças – que devo lutar para combater o preconceito e a intolerância de
quem acha que seu modo de enxergar o mundo deve ser imposto a todos os homens.
Luto, no final das contas, pelo meu direito de existir, assim como sou.
Sérgio Santos da Silva
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