Sou a favor do dia das mães. E do dia dos pais. Alguns anos atrás, pelo menos na minha percepção, esse seria um posicionamento natural. Quem poderia ser contra um dia para homenagearmos aquela figura, geralmente feminina, que assumiu os cuidados maternos? Quem seria contra um dia para lembrarmos da outra figura, geralmente masculina, que assumiu a função paterna? Sim, ser mãe é diferente de ser pai, embora ambos possam dividir tarefas e responsabilidades para com os filhos, embora ambos possam dedicar-se igualmente aos filhos. Mas não é minha intenção aqui explicar as diferenças entre ser mãe e ser pai, mas justificar meu posicionamento favorável aos respectivos feriados de maio e agosto.
Compreendo que a mãe, na ausência de um pai, pode
assumir a função paterna. No entanto, a existência de mães que criam filhos
sozinhas não indica que pais são desnecessários. Muito pelo contrário: reafirma
a importância do pai, isto é, deixa evidente que o pai faz tanta falta, que a
mãe procura supri-la como pode. De igual forma, pais podem, na ausência da mãe,
assumir a função materna, mas isso só revela a importância da mãe no seio da
família. E, claro, a maternidade e a paternidade podem ser assumidas pela avó,
pelo avô, pelos tios, pelos irmãos mais velhos, etc. Há ainda os pais e as mães
de adoção. O segundo domingo de maio e o segundo de agosto são datas para
homenagearmos justamente a figura da mãe e do pai, sejam eles seus progenitores
ou não.
Algumas pessoas gostam de dizer coisas como
"todo dia é dia das mães", mas essas pessoas sabem que não estão
falando nada. Como seres simbólicos que somos, precisamos deixar marcado no tempo o que
consideramos importante, aquilo que devemos lembrar sempre para dirigir nossos pensamentos em sua direção ou para celebrá-lo. Então, embora possamos prestar homenagens às nossas mães e aos nossos pais em qualquer dia do ano, ocupamo-nos com nossa vida particular quase o
tempo todo e esquecemos de homenageá-los, a não ser nessas datas específicas. É
nessas datas que os presenteamos, que dizemos o quanto os amamos, que
procurarmos fazer algo especial com e para eles.
Mas voltemos às minhas indagações iniciais: há,
sim, pessoas que são contra o dia das mães e contra o dia dos pais, pessoas que
advogam um substitutivo "dia da família", que, diferente das duas
últimas datas, não seria uma data "excludente". Isso porque há
crianças que não têm mãe, ou que não têm pai, ou que não têm ambos. Mas qual é
a questão efetivamente? A questão é que não sabemos lidar com o sofrimento, e
por isso queremos suprimi-lo totalmente. Advogamos uma espécie de felicidade
permanente, em que qualquer coisa que possa evocar uma lembrança triste deve
ser "silenciada". Assim, não podemos homenagear as mães porque há
crianças sem mãe; não podemos homenagear os pais, porque há crianças sem pai. É
assim mesmo?
Penso que o dia das mães é uma data para
pensarmos na maternidade; para pensarmos na mãe presente em nossa vida ou na
mãe que nos falta. O mesmo pode ser dito do dia dos pais. É tempo de
celebração, ou de choro, mas sempre uma oportunidade de reflexão. Uma criança
sem mãe (ou pai) pode, em um primeiro momento, sofrer por não ter a quem
homenagear na data comemorada na escola. Mas, em outro momento, pode chegar à
compreensão, por exemplo, de que é amado por aqueles que zelosamente cuidam
dela; de que essas pessoas que tanto fazem por ela são verdadeiramente suas
mães e seus pais. Pode também ser capaz de perdoar a mãe ou o pai que a
abandonou. Ou de chorar pelo pai ou mãe mortos. Mas em nossos dias já não se
permite o choro. Espera-se que crianças estejam sempre rindo, alegres e
faceiras. No entanto, o sofrimento é algo bem real no mundo e, de qualquer
maneira, inevitável. As lembranças evocadas por essa datas simbólicas, podem,
enfim, levar uma criança a crescer um pouco mais. Mas, infelizmente, nos dias de hoje, o choro não é livre.
Sérgio
Santos da Silva